Sumário
A Carta IEDI de hoje aborda estudo recente sobre a dinâmica da
produtividade realizado pelo McKinsey Global Institute a partir de
experiências de países desenvolvidos. O trabalho se intitula “The power of one: How standout
firms Grow national productivity”.
A produtividade, que é uma temática importante para o IEDI, foi
tratada em muitas outras ocasiões pelo Instituto, a exemplo do documento
“Indústria e Estratégia de Desenvolvimento Socioeconômico do Brasil” e da
Carta n. 1173
“Produtividade: o desafio brasileiro”, em que chamamos a atenção para o
imperativo do aumento da produtividade para que nossa economia possa crescer
de forma sustentada, com elevação da renda per capita e com menos
desigualdades.
O novo estudo da McKinsey reforça o entendimento da
produtividade como uma prioridade estratégica para as empresas e para os
países, sobretudo quando se consideram as mudanças demográficas de longo
prazo e os riscos de os mercados de trabalho permanecerem tensionados.
Nessas condições, uma taxa saudável de crescimento da
produtividade pode não apenas gerar mais valor a partir de uma força de
trabalho escassa, como também viabilizar os salários mais altos necessários
para atrair os melhores talentos. O desafio é como impulsionar a
produtividade.
A pesquisa analisou 8.300 grandes empresas de três países,
Alemanha, Reino Unido e EUA, e de 4 setores diferentes: varejo; automotivo e
aeroespacial; viagens e logística; e informática e eletroeletrônico,
incluindo semicondutores. O período de análise priorizou 2011-2019, para
evitar possíveis distorções resultantes da crise financeira global (2008) e
da pandemia de Covid-19, mas os resultados obtidos também foram testados para
o período 2019-2023.
A partir de análises quantitativas enriquecidas com estudos de
caso específicos de setores e empresas, o estudo examinou como o crescimento
da produtividade nas economias selecionadas foi fortemente impulsionado pelo
desempenho de um pequeno número de empresas de alto impacto, denominados
“Destaques”.
O estudo chega a resultados que em parte complementam e em parte
desafiam visões estabelecidas sobre o tema da produtividade. As suas
principais conclusões estão resumidas a seguir.
Um pequeno número de empresas contribui com a maior parte do
ganho de produtividade: menos de 100 Destaques foram responsáveis por 2/3 do
crescimento da produtividade da amostra analisada.
No extremo oposto, 55 empresas de baixo desempenho (denominadas
“Retardatárias” no estudo) foram as principais responsáveis por puxar a
produtividade para baixo nos três países analisados.
A McKinsey mostra que estratégias ligadas ao crescimento da
empresa e à inovação foram mais determinantes do que iniciativas focadas
puramente em eficiência. A produtividade aumentou em grandes saltos à medida
que as empresas encontraram novas maneiras de criar e escalar valor
novo.
Essa conclusão contraria a ideia que o crescimento da
produtividade se daria principalmente por meio da difusão de boas práticas
das líderes para as seguidoras, que levaria a um processo de convergência dos
níveis de produtividade.
Os ganhos de produtividade decorrem de dois efeitos principais:
melhorias internas das empresas (efeito
produtividade da firma) e realocação de trabalhadores de firmas
menos produtivas para mais produtivas (efeito
realocação). O impacto da realocação no crescimento da
produtividade é quase tão relevante quanto os ganhos internos das firmas. A
saída de empresas improdutivas do mercado contribui positivamente para o
desempenho agregado.
A McKinsey também aborda um tema caro para o debate sobre
política industrial: a influência da estrutura setorial na produtividade. A
conclusão do estudo é que empresas “não se formam no vácuo”, sendo
influenciadas pela dinâmica setorial e por condições mais amplas do ambiente
econômico.
Alguns setores funcionam como “terrenos férteis”, com dinâmicas
de mercado, tecnologia, regulação e arranjos competitivos que fornecem as
bases para o surgimento de empresas de Destaques e para a criação de valor. É
o caso, por exemplo, do setor de computadores e eletrônicos, segundo o
estudo.
Com base nesses resultados, a McKinsey propõe uma nova abordagem
para promover o crescimento da produtividade e defende que, ao invés de focar
apenas na difusão de boas práticas e medidas de melhoria do ambiente de
negócios, as políticas públicas e estratégias corporativas devem reconhecer a
importância assimétrica de empresas de alto desempenho e fomentar seus
avanços.
Vale aqui uma ponderação para a realidade de países em
desenvolvimento, a exemplo do Brasil: nestes países a heterogeneidade entre
as empresas é muito maior do que em países desenvolvidos, foco do estudo da
McKinsey, por isso, a difusão de tecnologias e boas práticas para o conjunto
de empresas tende a dar maiores frutos. Isso inclui aquelas de menor porte,
como o Programa Brasil Mais Produtivo vem apontando desde sua criação,
discutido nas Cartas IEDI n. 918
e 1173.
Ainda que baseado em uma amostra restrita de países, todos eles
desenvolvidos, o estudo da McKinsey oferece insights que podem ser úteis para a
formulação de políticas industriais voltadas ao aumento da
produtividade:
1. Contribuições assimétricas das
empresas para o crescimento da produtividade: o papel das firmas de Destaque
recomenda uma maneira diferente ou complementar de pensar sobre quais medidas
podem ser mais eficazes.
2. O papel das grandes empresas:
considerando que a maioria das empresas de Destaque são incumbentes de grande
porte, a McKinsey defende garantir que essas grandes empresas se mantenham
ágeis e inovadoras.
3. Estímulo a ações e reações
ousadas: embora o processo de difusão e imitação de boas práticas seja
importante, a principal fonte do crescimento da produtividade são ações
ousadas, por isso, a política pública deve ser repensada para favorecer e
estimular estratégias desta natureza.
4. Mudanças de portfólio e
criação de valor: eficiência operacional é importante, mas o crescimento da
produtividade na empresa é gerado principalmente por ações que criam novos
modelos de negócios e mudanças para portfólios mais produtivos, inovativos e
que geram valor para o cliente. Novas tecnologias como a IA generativa com
esses fins serão fundamentais.
5. Escalar a inovação e novos
entrantes: no médio prazo, o crescimento da produtividade é impulsionado por
inovações de empresas que já ocupam posição de Destaque, mas a entrada de
empresas inovadoras no mercado é importante no longo prazo, pois serão os
Destaques do futuro. Por isso, convém dispor de políticas que ajudem startups a escalar e
aumentar a produtividade mais rapidamente.
6. Realocação dinâmica em direção
às firmas líderes e melhorias internas: A saída do mercado de empresas
improdutivas e a transferência de empregos de empresas menos produtivas para
empresas mais produtivas é um dos canais mais importantes para o crescimento
da produtividade a médio prazo.
Internamente às empresas, a realocação de recursos para
atividades de maior valor é um dos mais importantes impulsionadores da
produtividade. Essas constatações remetem a duas recomendações: as lideranças
das empresas devem repensar sua governança para facilitar a realocação de
recursos; e o Estado deve adotar políticas que facilitem a migração do
emprego de empresas menos produtivas para mais produtivas e, ao mesmo tempo,
auxiliar as firmas menos produtivas a se reestruturarem.
Introdução
A
Carta IEDI de hoje aborda o estudo do McKinsey Global Institute intitulado “The power of one: How standout
firms Grow national productivity”, de maio de 2025.
O
estudo foi desenvolvido a partir de em uma amostra não aleatória com as
seguintes características: 8.300 empresas grandes em 3 países desenvolvidos
(Alemanha, Reino Unido e EUA) e distribuídas em 4 setores: varejo; automotivo
e aeroespacial; viagens e logística; e informática e eletroeletrônico,
incluindo semicondutores.
O
estudo argumenta que os quatro setores avaliados representam um bom mix de diferentes
mercados, com dinâmicas distintas, e cobre de 10% a 15% do crescimento do
valor agregado oriundo do setor privado nos três países selecionados.
Adicionalmente, as empresas selecionadas são responsáveis por 2/3 do valor
agregado dos quatro setores e por parte significativa do crescimento de
produtividade.
Cabe
destacar que a amostra incorpora as operações internacionais das empresas
analisadas, pois muitas possuem atuação multinacional. O estudo argumenta
que, embora cerca de 10% a 30% do faturamento dessas empresas decorram de
suas operações internacionais, o valor agregado offshore é significativamente
menor, pois as atividades com maior valor agregado tendem a se concentrar nos
países de origem.
O
período estudado, de 2011 a 2019, foi escolhido para evitar possíveis
distorções resultantes da crise financeira global (2008) e da pandemia de
Covid-19. A McKinsey observa que o crescimento da produtividade agregada na
Europa e nos EUA foi excepcionalmente baixo no período analisado, o que se
deveu a um colapso no investimento que se seguiu à crise de 2009, juntamente
com o fim de uma onda de offshoring
e com a normalização do crescimento da produtividade do setor de TICs após
rápidos avançados relacionados à Lei de Moore.
Diante
disso, visando avaliar a robustez dos resultados encontrados, o estudo
repetiu os testes com dados do período 2019-2023 e verificou que o padrão
observado permanecia válido, o que permite acreditar que as conclusões
obtidas refletem fatores estruturais.
O
conceito de produtividade adotado é o de produtividade do trabalho, definida
para cada firma como o valor agregado real por trabalhador. O estudo destaca
que esta métrica inclui benefícios recebidos por todos os stakeholders
(acionistas, clientes, trabalhadores, credores e autoridade
tributária).
A
pesquisa mediu o crescimento do valor agregado por trabalhador em termos
reais, ajustando os valores nominais nos preços dos produtos e dos insumos
com base em deflatores setoriais (double-sided
deflator).
Essa
abordagem permite captar o efeito de inovações e novos modelos de negócio que
resultem em alterações dos preços para os clientes que superam as variações
de custos. De forma análoga, também permite captar situações em que variações
nos custos superam as praticadas para os clientes, indicando a redução da
capacidade da empresa de gerar valor.
Alavancas da produtividade
O
estudo classificou as empresas da amostra em 4 grupos, com base na
contribuição individual de cada uma para a variação da produtividade,
denominados: i) Destaques; ii) Retardatárias; iii) Restante com contribuição
positiva; e iv) Restante com contribuição negativa.
A
principal conclusão do estudo é que um pequeno grupo de empresas na amostra
(os “Destaques”) responde pela maior parte do ganho de produtividade. Efeito
similar ocorre no outro extremo da amostra, onde um grupo igualmente pequeno
de empresas (Retardatárias) foi responsável por frear o crescimento da
produtividade.
Ou
seja, são poucas as empresas que condicionam o comportamento da
produtividade, indiferente da direção do movimento, ou seja, tanto do lado
dos ganhos como do lado das perdas.
A
tabela abaixo apresenta a contribuição de cada grupo, separado por país, para
o aumento da produtividade. Como se observa, apenas 87 Destaques (1% das
empresas da amostra) adicionaram 1 ponto base cada ao crescimento da
produtividade nos seus países. Estas empresas empregavam 20% a 30% dos
trabalhadores, mas responderam por 45% a 80% do crescimento da produtividade,
dependendo do país.

A
figura a seguir ilustra graficamente o impacto desproporcional de Destaque e
Retardatárias para o crescimento da produtividade.

Em uma
análise comparativa, o estudo argumenta que a principal explicação para a
diferença entre o desempenho da produtividade dos EUA (+2,1%) e da Alemanha
(+0,2%) é a relação mais ou menos favorável entre “Destaques” e
“Retardatárias”: nos EUA, os Destaques superaram os Retardatárias por 44 a
14. Em contraste, na Alemanha essa relação foi de 13 a 16 e no Reino Unido,
de 30 a 25.
Além
da quantidade de Destaques em relação a Retardatárias, a contribuição
coletiva desses grupos também tem influência relevante: enquanto no Reino
Unido o conjunto de “Destaques” contribuiu para um aumento de 2,8 pontos
base, nos EUA o grupo contribuiu com 5,3 pontos e, na Alemanha, com 7,2
pontos.
A
McKinsey destaca, também, a contribuição diferenciada dos setores analisados
para o aumento da produtividade agregada. Segundo o estudo, a maior parte do
crescimento da produtividade nos EUA veio do setor de informática e
eletrônica, que concentrava 29 dos 44 Destaques do país. Em termos agregados,
entre 2011 e 2019 o setor respondeu por 15% dos empregos e por mais de 70% do
crescimento da produtividade da amostra avaliada.
As
figuras abaixo apresentam a contribuição dos diferentes setores de cada país.


A influência dos setores no desempenho das empresas
A
McKinsey também aborda um tema caro para o debate sobre política industrial:
a influência da estrutura setorial na produtividade. A conclusão do estudo é
que empresas “não se formam no vácuo”, sendo influenciadas pela dinâmica
setorial e por condições mais amplas do ambiente econômico.
Nesse
contexto, o estudo classifica alguns setores como “terrenos férteis”, com
dinâmicas de mercado, tecnologia, regulação e arranjos competitivos que
fornecem as bases para o surgimento de empresas de Destaques e para a criação
de valor, enquanto outros setores são rotulados como “desertos relativos”,
que tendem a produzir mais “Retardatárias”.
“Terreno
fértil”. São setores dinâmicos, marcados por inovação acelerada e maior
geração de valor para o cliente. O estudo cita o setor de computadores e
eletrônicos, com empresas como Nvidia e Apple, que exibem rápido crescimento
da produtividade por meio do aumento do valor gerado para os consumidores ou
que conseguem crescer ganhando mercado rapidamente. Algumas das empresas de
Destaque nesses setores atuam como âncoras que elevam o desempenho de
parceiros e fornecedores, criando ecossistemas corporativos vibrantes.
“Desertos
relativos”. São setores caracterizados como estáticos, com menos inovação,
nos quais estratégias focadas em eficiência operacional, consolidação ou
relocalização de portfólio foram mais comuns do que aquelas focadas na
criação de valor. Os setores automotivo e de serviços postais são usados como
exemplo de ganhos de produtividade obtidos por meio de reestruturações e
aumento da eficiência.
Por
outro lado, o estudo defende que os “desertos relativos” não determinam o
destino das empresas e cita como exemplo de “Destaques surgidos de desertos
relativos” empresas aéreas que criaram economia de escala por meio de
consolidações e companhias low-cost
que tiveram rápido crescimento.
Características das empresas de “Destaque”
O
estudo da McKinsey identifica quatro formas de se tornar um “Destaque”: (1)
aumentar um pouco a produtividade sendo grande (improvers), (2) aumentar muito a
produtividade sendo pequeno (disruptors),
(3) ampliar a escala por meio do crescimento da participação no emprego como
um líder em produtividade (scalers)
ou (4) perder participação no emprego sendo uma retardatária (restructurers).
Improvers: é o perfil
observado com maior frequência, obteve ganhos de produtividade médio de 5% ao
ano e representou mais de 50% dos “Destaques”. Na Alemanha e no Reino Unido
os improvers
responderam por cerca de 60% e 30% do crescimento de produtividade da
amostra, respectivamente.
Exemplos
de empresas nessa classificação incluem American Airlines, Delta, Southwest
Airlines e United, no segmento de transporte aéreo; Danaher, em computação e
eletrônica; Hapag-Lloyd em logística; REWE e Tesco no varejo; Airbus e
Nissan.
Disruptors: representam
apenas 10% dos “Destaques” observados. São empresas com menos empregados
(normalmente menos de 1% do emprego nos seus setores) mas que exibiram ganhos
acelerados de produtividade, de 15% ao ano em média.
Nos
EUA, disruptors
responderam por 5% dos ganhos de produtividade da amostra. Nessa
classificação estão empresas como Nvidia, cujo EBITDA aumentou 10 vezes entre
2011 e 2019. No Reino Unido e na Alemanha os disruptors responderam por um percentual
menor do crescimento da produtividade, de 2%, com empresas como a Zalando
(varejo online).
Scalers: representam
cerca de 10% do total de empresas de “Destaque” e sua contribuição decorre do
aumento da fatia no emprego (e não do aumento da produtividade) por empresas
que possuem produtividade em níveis acima da média, contribuindo, assim,
positivamente para a produtividade agregada.
Nos
EUA, os scalers
responderam por cerca de 25% do crescimento de produtividade da amostra.
Exemplos incluem Apple, Amazon, Broadcom e Qualcomm. No Reino Unido, as scalers responderam
por 5% do crescimento da produtividade da amostra e na Alemanha nenhuma
empresa foi classificada como tal.
Restructurers: representam
cerca de 20% das empresas de “Destaque”. Ao contrário das demais, a
contribuição das empresas classificadas nessa categoria decorre da realocação
de empregados para empresas de maior produtividade.
Ou
seja, restructurers
são empresas que passam por um processo de downsizing
e perdem participação no mercado e no emprego e, com isso, reduzem a sua
influência negativa na produtividade agregada.
No
caso americano, as restructurers
responderam por cerca de 10% do crescimento da produtividade. Na Alemanha e
no Reino Unido estas empresas foram responsáveis por pouco menos de 5% do
crescimento de produtividade da amostra e isso se deveu majoritariamente à
saída completa dessas empresas do mercado.
A
figura abaixo apresenta a contribuição de cada categoria para o crescimento
da produtividade da amostra, para cada país.

A
McKinsey observa que a maioria das empresas de “Destaque” possui grande
porte. Em 2011, uma empresa de “Destaque” tinha, em média, 65.000 empregados,
e a menor empresas de “Destaque” possuía pouco menos de 500. A maioria das
grandes empresas, contudo, não eram “Destaques” e algumas eram classificadas
como Retardatárias.
Conforme
a metodologia do estudo, empresas de “Destaque” são aquelas que contribuem de
forma desproporcional para o crescimento da produtividade. Nos EUA, dentre as
empresas que contribuíram positivamente para o aumento da produtividade, as
10% maiores empresas respondem por 54% do emprego e por 68% do aumento da
produtividade. Os Destaques, por sua vez, respondem por 23% do emprego e
oferecem uma contribuição desproporcionalmente maior para a produtividade, de
78%.
O
estudo verificou ainda uma certa estabilidade entre as empresas de Destaque:
2/3 das que estavam na amostra entre 2011-2019 (65 empresas no total)
permaneceram no período 2019–2023, refletindo o fato de que preservaram a
capacidade de inovar ou mantiveram propostas de valor superiores.
Cerca
de 20% das empresas de Destaque de 2011-2019, contudo, se tornaram
retardatárias no período seguinte e 60% das Retardatárias do primeiro período
se tornaram Destaques entre 2019-2023, o que é uma evidência da possibilidade
de mobilidade para o grupo superior.


Nível vs
Crescimento da produtividade
O
estudo ressalta que as empresas de “Destaque”, com as maiores contribuições
para o crescimento da produtividade, nem sempre são as que exibem os níveis
mais elevados de produtividade (medido pelo valor agregado por
trabalhador).
No
caso dos EUA, em 2011 a amostra analisada continha apenas três empresas de
“Destaque” entre as 5% mais produtivas. No Reino eram cinco. Segundo o
estudo, as 5% mais produtivas tenderam a ser pequenos negócios com modelos de
negócios muito específicos difíceis de replicar.
Outra
característica para a qual o estudo chama atenção é a velocidade de
crescimento da produtividade das empresas, revelando que embora as empresas
de “Destaque” tenham apresentado crescimento da produtividade acima da média,
elas não estiveram entre as empresas com crescimento mais acelerado.
Isso
se deve, em parte, ao próprio conceito de empresa de “Destaque” adotado pela
McKinsey, pois as empresas com crescimento de produtividade mais alto são
frequentemente muito pequenas para, individualmente, impactarem a
produtividade agregada.
Apesar
dessa constatação, o estudo conclui que, coletivamente, as empresas com
crescimento da produtividade mais acelerado oferecem contribuição relevante
para a produtividade agregada.
Estratégias ousadas e saltos de produtividade
Para
entender os fatores que fazem de uma determinada empresa um “Destaque”, o
estudo analisou aspectos específicos de cada uma delas (incluindo relatórios
anuais) e a dinâmica dos setores em que operavam.
A
conclusão é que métricas tradicionais de desempenho, como faturamento,
EBITDA, CAPEX e até mesmo níveis de gasto em P&D, têm pouco poder
explicativo. Ao contrário, o estudo afirma que os fatores que realmente
importam são estratégias ousadas que levem a maior crescimento, ofereçam
novas propostas de valor e promovam transformações de portfólio, ao contrário
da simples busca por maior eficiência.
A
McKinsey aponta que os “Destaques” se diferenciam pela adoção de 5 movimentos
estratégicos, muitas vezes combinados, moldando os setores em que operam e
resultando em um crescimento mais rápido no valor para o cliente. A maioria
dos movimentos está mais relacionada ao crescimento da receita e a
estratégias ligadas ao portfólio do que à eficiência operacional e à redução
de custos.
O
estudo também constatou que os movimentos das empresas de “Destaques”
provocam reações das demais empresas do setor, que são forçadas a ajustar
seus próprios modelos de negócio e propostas de valor, impulsionando ganhos
de produtividade em resposta às ações iniciais.
Por
exemplo, no segmento do varejo, a Amazon escalou um novo modelo de negócio online mais produtivo
(movendo-se de disruptor
para scaler),
enquanto a Home Depot migrou para o e-commerce
ao mesmo tempo em que promoveu uma mudança na experiência do cliente nas
lojas físicas, se tornando líder da categoria (improver) e a Sears foi forçada a sair do
mercado (restructurer).
Essas
ondas de ações e reações estratégicas são, segundo o estudo, a chave para o
crescimento.
As
empresas Retardatárias, por sua vez, são aquelas que falham em atuar ou que
se movem muito lentamente para se adaptarem às novas tendências e aos
movimentos das demais.
A
seguir, um resumo dos cinco movimentos estratégicos empregados pelas empresas
de “Destaque” apontados pela McKinsey:
1. Escalar modelos de negócios ou tecnologias mais
produtivas – mudança dos modelos tecnológicos e de negócios para alternativas
com maior produtividade, que ofereçam maior valor aos clientes ou que
demandem menos trabalhadores.
2. Mudar portfólios regionais e de produtos – inclui
a ampliação de linhas de produtos com maior valor para o cliente,
redirecionamento para mercados geograficamente mais promissores e rentáveis e
expansão para negócios novos ou adjacentes com produtividade inerentemente
maior.
3. Reformular propostas de valor ao cliente para
aumentar a receita e o valor agregado – geralmente em resposta a tendências
ou ataques competitivos. As estratégias dos Destaques incluíram iniciativas
de diferenciação em mercados de massa, exploração de nichos e investimentos
em ofertas de valor em mercados de rápido crescimento.
4. Construir escala e efeitos de rede para alcançar
mais com menos – economias de escala e escopo são importantes fontes de
ganhos de produtividade.
5. Aumentar a eficiência operacional e reduzir custos de
aquisição. O estudo cita exemplos de empresas que, juntamente com estratégias
que produziram grandes saltos de produtividade, implementaram medidas de
aumento da eficiência (e.g.
lean manufacturing, redesenho de processos, adoção de tecnologias
de automação) e gestão da rede de fornecedores visando à redução de custos.
Segundo
a McKinsey, as empresas classificadas como “Destaques” no período 2011-2019
aplicaram um ou mais dos movimentos estratégicos acima. O estudo enfatiza,
contudo, que mudanças em produtos e nos seus posicionamentos estratégicos
foram mais decisivas para ganhos de produtividade do que as medidas focadas
em “fazer mais com menos”.
A
tabela abaixo apresenta exemplos de empresas que se destacaram em cada uma
das 5 estratégias acima, segundo o estudo.

A força das empresas líderes e da dinâmica da realocação
O
estudo destaca dois padrões associados ao rápido crescimento da produtividade
em países e setores. Primeiro, as empresas de fronteira da produtividade têm
uma importância desproporcionalmente grande, especialmente nos Estados Unidos
e no Reino Unido.
Um
segundo padrão importante observado no crescimento da produtividade é a
dinâmica da realocação de empregados de empresas menos produtivas para as
líderes. Esse efeito foi quase tão importante quanto os avanços na
produtividade dentro das empresas e, adicionalmente, foi mais relevante do
que a entrada e saída de empresas do mercado.
O
estudo divide as empresas em seis grupos, considerando a forma como
influenciam na evolução da produtividade. São eles: i) as que parmanecem na
fronteira e ganham produtividade; ii) as que permanecem fora da fronteira;
iii) as que transitam para a fronteira; iv) as que se afastam da fronteira;
v) as que saem do mercado; e vi) as que entram no mercado.
Nos
países e setores de maior crescimento, o grupo que mais contribuiu para o
aumento da produtividade foi o de empresas que permanecem na fronteira. A
exceção foi a Alemanha, onde as empresas na fronteira contribuiram
negativamente e a maior parte da contribuição positiva veio do grupo de
empresas que se moveu para dentro da fronteira.

No
nível setorial, não há uma tendência clara sobre quais grupos oferecem as
maiores contribuições. De fato, o estudo conclui que o grupo de empresas (na
fronteira, fora da fronteira, transitando para a fronteira etc.) que mais
contribuiu para o crescimento da produtividade variou dependendo do subsetor
analisado.
Apesar
dessa heterogeneidade, a McKinsey destaca que, em sete dos nove subsetores
com maior crescimento as empresas que permaneceram na fronteira foram a
primeira ou segunda principal fonte de crescimento da produtividade,
reforçando a ideia de que o crescimento depende fundamentalmente do
desempenho dessas poucas empresas.
A
análise do desempenho das empresas nos diferentes setores revela que avanços
das empresas que já estavam na fronteira (divergência em relação às demais),
se destacando ainda mais, ocorreram com maior frequência do que os casos em
que as retardatárias ganharam produtividade, se aproximando da fronteira
(convergência).
Considerando
todos os 17 casos, combinando setores e países analisados, em que ocorreu
crescimento da produtividade, a McKinsey registrou divergência em 9 deles,
convergência em 5 e neutralidade em 3.
Segundo
a McKinsey, essa constatação tem implicações profundas para o debate sobre
"convergência", baseado na ideia de que a produtividade seria
gerada em grande parte por empresas menos produtivas que se aproximam das
mais produtivas ao longo do tempo, à medida que ideias e melhores práticas se
difundem.
Ademais,
é importante frisar que nem sempre a convergência resulta do crescimento da
produtividade das empresas fora da fronteira em relação às líderes. Há casos
em que, ao contrário, o aumento relativo das empresas fora da fronteira
decorre da redução do tamanho das empresas menos produtivas ou até mesmo da
sua saída do mercado.
Para a
McKinsey, a realocação de empregados entre as empresas foi quase tão
importante quanto o crescimento da produtividade intrafirma.
Nos
EUA, a dinâmica de realocação de funcionários para empresas mais produtivas
foi responsável por quase metade do crescimento da produtividade da amostra.
Em todos os setores avaliados, a realocação de empregos foi o efeito
dominante em 40% dos que apresentaram crescimento. Essa constatação reforça a
visão de que empresas muito produtivas que ganham participação podem deslocar
a média e impulsionar a produtividade.
Nos
outros dois países esse padrão não foi observado: no Reino Unido a realocação
serviu apenas para neutralizar uma queda de -0,2 da produtividade intrafirma,
resultando em crescimento nulo, e na Alemanha a contribuição da realocação
foi negativa, como ilustra a figura a seguir.
Nesse
contexto, a McKinsey chama atenção para dois temas relevantes para a política
industrial: i) a necessidade de equilíbrio entre possibilitar o crescimento
das empresas líderes e garantir a concorrência; e ii) a discussão sobre até
que ponto as empresas mais atrasadas devem ser apoiadas.

As
empresas que saíram do mercado contribuíram positivamente para o crescimento
da produtividade do país e do setor, abrindo caminho para empresas mais
produtivas. Contribuição positiva semelhante não foi observada com a entrada
de novas empresas.
A
contribuição positiva da saída de empresas do mercado foi particularmente
expressiva na amostra dos EUA, onde somaram 0,5 ponto percentual ao
crescimento da produtividade. O estudo argumenta que esse resultado pode
refletir um sistema econômico e legislativo que permite que empresas
improdutivas deixem o mercado com relativa rapidez e que os empregos migrem
para empresas mais produtivas.
Nos
outros dois países analisados, o efeito positivo da saída de empresas também
foi relevante em setores de alto crescimento.
Com
relação ao impacto relativamente pequeno da entrada de novas empresas na
produtividade, a McKinsey argumenta que pode ser um reflexo do período de
análise relativamente curto da pesquisa, de apenas oito anos. Assim, é
possível que as novas empresas apenas não tenham tido tempo suficiente para
escalar e oferecer uma contribuição mais relevante para a
produtividade.
Um novo manual de produtividade, segundo a McKinsey
A
produtividade, defende a McKinsey, é um imperativo estratégico, sobretudo
quando se consideram as mudanças demográficas de longo prazo e os atuais
mercados de trabalho concorridos e que podem permanecer assim. Nessas
condições, uma taxa saudável de crescimento da produtividade pode não apenas
gerar mais valor a partir de uma força de trabalho escassa, como também
viabilizar os salários mais altos necessários para atrair os melhores
talentos.
O
desafio é como promover o crescimento da produtividade. Nesse contexto, a
McKinsey argumenta que os resultados encontrados neste estudo em parte
complementam e em parte desafiam visões estabelecidas sobre o tema.
A
principal conclusão do estudo é que o impacto de grandes saltos de
produtividade de um pequeno conjunto de empresas supera os ganhos advindos da
difusão gradual da produtividade entre um grande número de empresas.
Analisando
os principais mecanismos que levam ao aumento da produtividade, a pesquisa
demonstrou a importância da realocação de trabalhadores de empresas menos
produtivas para aquelas com melhor desempenho, destacando que essa
“modalidade” de destruição criativa foi inclusive mais relevante do que a
baseada na saída e entrada de empresas do mercado.
Por
fim, o estudo defende que a importância do desempenho de empresas individuais
não se limita à amostra analisada. Em um exercício mais abrangente, mesmo
considerando a produtividade agregada dos países, o crescimento da
produtividade das empresas de destaque em cada país afeta de forma relevante
a produtividade total.
Diante
disso, a McKinsey propõe uma nova abordagem para o desafio da produtividade,
baseada em seis pilares.
1.
Poucas empresas puxam o crescimento da produtividade
Políticas
convencionais consideram que o crescimento decorre de ganhos de produtividade
disseminados entre um grande conjunto de empresas e, para alcançar esse
objetivo, lançam mão de medidas voltadas à melhoria do ambiente de negócios e
à difusão de boas práticas, entre outros instrumentos de política
industrial.
O
papel dos “Destaques”, revelado por este estudo, recomenda uma maneira
diferente (ou complementar) de pensar sobre quais medidas podem ser mais
eficazes, considerando as contribuições assimétricas das empresas.
Dados
resultados do estudo, a McKinsey aponta algumas questões que ficam em aberto.
Em quais setores há poucos ou muitos Destaques e o que pode ser feito?
Abordagens mais individualizadas em relação às empresas e suas contribuições
seriam úteis? Que medidas podem ser mais eficazes para estimular as empresas
a crescerem e criarem mais valor ou, alternativamente, a se “reestruturarem”?
Com
base na constatação de que os EUA possuem muitos “Destaques” no setor de
computação e eletrônica e, por outro lado, que a Alemanha possui muitos
“Destaques” no setor automotivo, os que os governos podem fazer para fomentar
o surgimento de Destaques em outros setores? Como evitar que o estímulo ao
surgimento e crescimento de empresas de Destaques se converta em captura do
Estado?
2. Improvers incumbentes
são a maioria dos Destaques
A
maioria dos Destaques são incumbentes de grande porte que acumulam ganhos de
produtividade ao longo do tempo (improvers).
Apenas 20% dos Destaques são scalers
(empresas de rápido crescimento) que assumem posições de liderança (e.g. Amazon e Apple) e
10% são disruptors.
Assim, a McKinsey propõe responder: como as grandes incumbentes podem
permanecer ágeis e inovadoras para permanecerem ou se tornarem
Destaques?
O
estudo mostra que grandes empresas incumbentes são “Retardatárias” com a
mesma frequência como que que se destacam. O que distinguiria, então, aquelas
que se reinventam com sucesso e se mantêm à frente de novas oportunidades e
tendências daquelas que ficam para trás?
3.
Ações e reações ousadas, mais do que imitação
O
processo de difusão e imitação de boas práticas de empresas líderes para
retardatárias previsto na literatura de fato ocorre, mas a principal fonte do
crescimento da produtividade são movimentos estratégicos ousados, que então
provocam respostas dos competidores. Essa dinâmica de ação e resposta produz
saltos de produtividade que podem ser observadas no nível setorial e da
firma.
Como
as empresas podem, então, se organizar para reagir rapidamente às novas
tecnologias e a modelos de negócios emergentes e qual é o papel da política
pública? A McKinsey também se pergunta como aumentar a exposição das empresas
à competição global e às novas ideias, necessárias para estimular a criação
de valor, para que os investimentos em P&D permaneçam na vanguarda e qual
formação de recursos humanos para lideranças e para inovação pode acelerar a
produtividade.
4.
Estratégia, mudanças de portfólio e criação de valor, mais do que busca por
eficiência
Eficiência
operacional é importante, mas o crescimento da produtividade na empresa é
gerado principalmente por movimentos estratégicos que criam modelos de
negócios e promovem mudanças para portfólios mais produtivos e geram valor
para o cliente ou inovação em escala.
Entre
as provocações levantadas pela McKinsey está como as empresas podem
reinventar modelos de negócio e formas de gerar valor para o cliente enquanto
buscam ganhar produtividade com novas tecnologias, incluindo IA?
O foco
das empresas com o uso de novas tecnologias, particularmente da IA
generativa, é aumentar a eficiência de processos e reduzir custos, fatores
que, como revelado pela pesquisa, não são as principais fontes de ganhos de
produtividade. Qual o potencial dessas tecnologias para promover ganhos de
receita por meio da criação de valor novo? Qual o papel de estratégias de
fusões e aquisições nesse contexto?
5.
Escalar a inovação tem mais importância do que novos entrantes
A
entrada de empresas inovadoras no mercado é importante no longo prazo, pois
serão os Destaques do futuro. No médio prazo, contudo, o crescimento da
produtividade é impulsionado por inovações de empresas que já ocupam posição
de Destaque. Para isso, as empresas precisam ter a estratégia certa e
implementá-las em escala.
Por
outro lado, as pequenas e médias empresas que não inovam nem escalam podem
desempenhar muitos papéis sociais importantes, mas, de modo geral, não
impulsionam a produtividade.
Como
fomentar o surgimento dos Destaques do amanhã? Quais políticas podem ajudar startups a escalar e
aumentar a produtividade mais rapidamente? Quais políticas existentes podem
retardar o surgimento de novas empresas líderes e promover a consolidação
daqueles que provavelmente não serão líderes? Qual o papel do setor privado (e.g. empresas, fundos
de capital de risco) no fortalecimento das capacidades e dos ecossistemas
necessários para implementar inovação em escala? São alguns dos
questionamentos colocados pela McKinsey.
6.
Realocação dinâmica em direção às empresas líderes e melhorias internas
A
saída do mercado de empresas improdutivas e a transferência de empregos de
empresas menos produtivas para empresas mais produtivas é um dos canais mais
importantes para o crescimento da produtividade a médio prazo.
Internamente
às empresas, a realocação de recursos para atividades de maior valor é um dos
mais importantes impulsionadores da produtividade. As lideranças das empresas
podem repensar sua governança para facilitar a realocação de recursos?
O
estudo destaca o dinamismo do mercado de trabalho dos EUA como um fator que
contribui para o aumento da produtividade ao facilitar a migração do emprego
de empresas menos produtivas para mais produtivas. Por isso, a McKinsey
também questiona que políticas poderiam apoiar ajustes dinâmicos do emprego
na direção das empresas mais produtivas e, ao mesmo tempo, auxiliar as
empresas menos produtivas a se reestruturarem?
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